segunda-feira, 1 de julho de 2013

Paradiso

 
 
 
Na beira da lagoa Mundaú, Massagueira  é o portal de um mundo na bica de desaparecer. Paisagens ancestrais ,natureza  ainda não domada, revelam uma paleta de cores que é impossível combinar quando se tem tantos parâmetros e tantas âncoras que a educação formal nos lega de modo subliminar, alterando , algumas vezes ,  a configuração original de bom gosto e da elegância.
Elegância em suma está no dna de cada pessoa, não existe em araras e prateleiras, definitivamente não está, nos balcões de ofertas.
Esse desperdício de paisagem me levou a recolher em minhas andanças pelo mundo que está por perto e considero meu, onde me sinto bem obrigado, em casa ,terrivelmente confortável , a expressão poética que não confia em rimas ,escolas e formas mas apega-se ao conforto de um mundo logo ali e se traduz em originalidade e funcionalidade, sem que as palavras caibam nos ouvidos e passeiem pelas línguas preocupadas em manter-se a tona,com a sobrevivência como norte mas sem esquecer o humor e a graça de toda gente que vive no interior de um mundo.
É possível adivinhar em alguns lugares historias remotas esquecidas que sobrevivem numa arte que vem do espirito, muitas vezes distraído que vai pintando, bordando ,amando, dando forma inesperadas e usos surreais a matéria prima desprezada, banal que às vezes faz parte da paisagem rotineira ,tão habitual que não causa impacto  nem surpresa aos transeuntes
Onde guardar os tesouros da casa? A panela de barro, a boneca de pano ,a canoa esculpida a canivete, o pano de prato em ponto de cruz, tão perfeito que parece pintura, o pote decorado com estranhos motivos e guardando flores de papel que não querem ser flores mas apenas uma lembrança delas, a toalha mais bonita que as vezes vai para mesa quando as visitas prometem chegar e ostentam a delicadeza do filé, a sutileza do crivo a riqueza absurda da renda irlandesa, alguma apropriação pop da Ilha do Ferro, da Ophicina de Agosto e uma poética inesperada na bainha portuguesa de Coronel Xavier Chaves
Tudo causa um delicioso impacto para o olhos ,encontrar riqueza no seio da simplicidade de uma cidade mínima, remota e tudo que alguns dizem do que não dão importância, deixe que digam e a vida passa com essas surpresas para quem sente
Lentamente quero esse blog como um portal para outros mundos e outras artes e foi por isso que surgiu Caritó que fez sua estreia no mundo na ultima Unilar em Belo Horizonte que teve o brilho ofuscado pelas conturbações populares, necessárias que grassam pelo país. Mas como não penso em tornar a ideia uma loja física deixo aqui um link para o contato com aquilo que apresentamos na feira sem tanto impacto. Foi um grande esforço ,próprio e de outras pessoas maravilhosas que me ajudaram ,familiares, amigos antigos, agregados de anos, amigos recentes que aos poucos serão nomeados. Artesãos de Sergipe em Tobias Barreto, Divina Pastora, Itabaiana ; Minas Gerais em Sete Lagoas, Tiradentes e Belo Horizonte. Perfumes de Ambiente da Ar de Minas produzidos no nosso sitio em Moeda. Coisas que eu adonei-me  para gerenciar de modo funcional o cotidiano
 

Moça Veia


Moça Veia


 

 

 

A moça veia quando vai se confessar.
Pergunta pra seu padre.
Sé é pecado namorar.
O Padre diz minha filha vai rezar.
Que moça veia não precisa se casar.
Tira pó Vitalina bota pó.
Que a moça veia não sai mais do caritó.

A Moça veia quando vai pegar um trem.
Fica toda arrepiada.
Quando vê um certo alguem.
Tira pó Vitalina bota pó.
Que a moça veia não sai mais do caritó.

A Moça veia quando é demanhazinha.
Passa creme passa rugi.
Pra ficar engracadinha.
Mais não adianta ela fica mais feinha.
Tira pó Vitalina bota pó.
Que a moça veia não sai mais do caritó.

A moça veia quando vai se confessar.
Pergunta pra seu padre.
Sé é pecado namorar.
O Padre diz minha filha vai rezar.
Que moça veia não precisa se casar.
Tira pó Vitalina bota pó.
Que a moça veia não sai mais do caritó.

A Moça veia quando é demanhazinha.
Passa creme passa rugi.
Pra ficar engracadinha.
Mais não adianta ela fica mais feinha.
Tira pó Vitalina bota pó.
Que a moça veia não sai mais do caritó.

A Moça Veia quando vai a um casamento.
Fica com assanhamento chamando toda atenção.
Quando ela dança fica toda arrepiada.
Coitadinha da danada não sai mais do barricão.
Não, não, não, nem que gaste dez milhão.
Não, não, não, comigo não casa não.
Não, não, não, coitadinha da danada.
Tá maluca atarentada.
Tá todinha arrepiada.
A letra dessa musica de um artista de musica popular que atuou nos fins dos anos 50 e 60 explica bem o uso popular para palavra caritó.

O que é o caritó




 
CARITÓ

 

Caritó é a pequena prateleira no alto da parede, ou nicho nas casas de taipa, onde as mulheres escondem fora do alcance das crianças, o carretel de linha, o pente, o pedaçõ de fumo, o cachimbo. Vitalina, conforme a popularizou a cantiga, é a solteirona, a môça-velha que se enfeita - bota pó e tira pó - mas não encontra marido. E assim, a vitalina que ficou no caritó é como quem diz que ficou na prateleira, sem uso, esquecida, guardada intacta

 

 Aposento imaginário em que ficariam as mulheres que passaram da idade de casar

 

local imaginário onde se abrigam as solteironas

 

ficar no caritó

diz-se a respeito de mulher velha que permaneceu solteira